quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Último Adeus

                 
Jà fazia algum tempo desde que Caio percebeu seus dias ficando mais negros e trevosos. Seu doce verão interno se transformou em um terrível inverno, e sua vida não fazia mais sentido algum.
Não se contava nem uma semana desde que sua família, seus pais e dois irmãos, morreram em um acidente letal. Por um infortúnio do destino, acabará escapando do mesmo fim, chegara na casa da tia três dias antes dos pais, para arrumar as coisas para a pequena apresentação em família que viria.
O Natal perderá completamente o sentido, a festa virou luto, o vermelho virou preto.
Se amaldiçoava a cada dia por ter vindo antes e escapado da morte junto a seus entes queridos. “E  para aonde vou agora?”, pensava ele, a tia já havia falado que não tinha condições de arcar com mais um adolescente na casa, os avós eram tão velhos que nada poderiam fazer, aos poucos todos os outros parentes foram se esquivando.
Bia, sua  namorada, havia terminado tudo com ele fazia um mês, ele ficou arrasado, mas sua irmã mais velha o ajudava, e agora até mesmo o conforto fraternal a vida o roubou.
Nâo muitos dias depois, seu destino foi traçado, o Orfanato Dr. Gertrudes de Assis, iria recebê-lo, ele teria que agüentar dois anos no inferno, depois era completar sua maioridade e botar a mão em algo deixado pelos seus pais.
O Orfanato, não era dos piores (não que trouxesse algum conforto), era na beira de uma floresta escura, esta que trazia uma aparência horripilante, a maior parte dos órfãos não tinham coragem de chegar perto.
O pobre garoto, começou a meditar sobre a Floresta, ele não queria mais viver, e pensou que aquele seria um ótimo lugar para sua despedida desse mundo.
Todos no orfanato o tratavam como coitado, e isso o frustrava,  já estava ali há 7 semanas e não havia falado com ninguém.
“Amanhã eu acabo com isso!”  , pensava ele, logo que encostou sua cabeça no travesseiro
No dia seguinte ocorreu tudo normalmente, ele tomou seu café, almoçou e não falou com ninguém. Estava chegando perto da hora de escurecer, ele resolveu fazer um bilhete de despedida para todos.

“Queridos parentes, não quero ser um fardo pra vocês, sei que em todo tempo que estou aqui vocês se preocupam, mesmo que à distância. Minha família morreu, não tenho mais nada que fazer aqui, já tinha pensamentos de suicídio desde antes de tudo isso acontecer. Sempre quando olhava para as pessoas, via que nada de bom poderia sair dali, o mundo é um lugar onde fica cada vez mais difícil encontrar boas pessoas para fortalecer seu espírito. Não sei se vocês acreditam em céu e inferno, mas eu acredito que quem toma o passo que breve tomarei não vai para um lugar bom, mas mesmo se o inferno estiver em meu caminho, saibam que pelo menos lá, as criaturas não devem ser falsas, devem agir como querem ser, diferente daqui, onde todos querem passar papéis que não gostam.
Esse motivo faz com que vocês, finjam que se importam comigo, quando na verdade não estão preocupados em nada, minha esperança é poder ver minha família de novo, esta foi muito cedo arrancada de mim, e preciso deles.
Digam a Bia, que sempre a amei, e planejava construir algo com ela, algo duradouro e decente, mas os caminhos da vida não são como queremos, e não faço isso por ela, faço por tudo.
No Fim, fiquem com este mundo que fede a corrupção, maldade e desordem,  pois eu vou embora, não tenho nada que fazer aqui, não suporto mais nada daqui, deixo a vocês meu último adeus.”
                O garoto se dirigiu para a Floresta, de onde nunca mais saiu, nem foi avistado por ninguém, pouco tempo depois, a carta foi encontrada e entregada aos parentes dele, eles nunca entenderam o porquê  dessa atitude, mas no fundo todos sabiam, que ele estava certo, nada de bom poderia vir das pessoas, assim como seus próprios parentes nunca foram visitá-lo, matando assim toda sua esperança.


                                

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