segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Decisão

                       Acordei já pensando no quanto seria decisiva minha viajem do dia seguinte, esta é uma fase da vida de muitas mudanças, o destino para quem, assim como eu, nasce em uma cidade pequena é a mudança, isso é fato.
                       Eu apenas iria preparar o caminho, tentando arranjar um emprego, porém algo aconteceu, à noite, pouco antes de ir para cama recebi a notícia que havia sido aprovado no curso de filosofia por uma universidade federal. Aquilo me chocou, algo que sempre quis fazer, porém era tão longe, com um curso com tão poucas opções de trabalho, será que valeria a pena largar o curso mais abrangente que também poderia ganhar de graça por isso?
                       Uma decisão tão importante pra ser tomada tão der repente, só espero estar fazendo a escolha certa, pois isto definirá todo o restante de minha vida....
 

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

A natureza contra o descaso


         
                Minha história? Bem ela ainda está acontecendo, já que a vida é um livro que uma nova página surge a cada dia. Mas o capítulo que estou protagonizando não é nada bom.
                Vamos por parte, há muitos anos meus pais resolveram se casar, não tinham nada, mas o sonho era ter uma casa onde pudessem construir uma família.
                Como não tinham dinheiro se ajeitaram em um canto qualquer. Certo dia neste “canto qualquer” veio um senhor, representante do prefeito da cidade, logo meus pais acharam que iam tirá-los de lá, mas ele não o fez, foi o contrário.  Convocou todos moradores do local e logo falou.
                “A prefeitura se importa com nossos moradores, não faríamos a atrocidade de tirá-los desse local, mas espero que entendam que para isso nosso prefeito precisa continuar, e precisa dos votos de vocês”
                Foi dito e feito, meus pais moravam na beira de um morro, e toda comunidade deu o voto para o candidato a prefeito em troca da morada ali.
                Voltando ao meu capítulo do livro de minha vida, meus pais não tiveram como me dar uma boa educação, abandonei a escola na sexta série, e comecei a ajudar meu pai como servente de pedreiro. Apaixonei-me por uma bela garota da vizinhança, nos casamos e passamos a morar na casa de meus pais.
                Minha vida ia muito bem, tivemos nosso primeiro filho, depois o segundo, mesmo não tendo luxo algum, eu estava feliz, amava profundamente minha família. Quando meu pai me contou como ele conseguiu nossa casa pedi para que Deus abençoasse nosso antigo prefeito pelo seu coração generoso.
                Mas desses últimos dias nunca vou esquecer, o capítulo começa quando tenho uma forte discussão com minha mulher na frente de meu filho de 5 anos, nossa discussão acordou a menorzinha que estava no berço. No auge da discussão disse “Me arrependo amargamente de ter me casado tão moço e ter perdido minha vida”, claro que não foi real, foi uma coisa que saiu da boca pra fora, mas quando brigamos fazemos de tudo para ferir nosso adversário seja física ou mentalmente.
                Sai de casa, fui para a cidade, não queria mais voltar pra casa naquele dia, nem a chuva forte que me fez cair algumas vezes no morro me fez parar. Fui prum bar lá no centro da cidade, quanto mais longe de casa ficasse era melhor.
                Depois de dormir fora de casa resolvi voltar, mas para onde? Cheguei no local onde minha casa sempre esteve e lá não havia nada, apenas lama, tudo estava soterrado não acreditei ao ver aquilo, me atirei no chão chorando com muita força, parecia que algo ruim estava apertando meu coração e brincando com ele como se fosse um saco de pancadas. Minha vista começou a embaçar e a última coisa que lembro foi de um dos homens envolvidos nas buscas me socorrer.
                Acordei em uma tenda de socorro improvisada com um dos voluntários nas buscas sorrindo e dizendo
                “Nem tudo se perdeu”, ela me entregou minha filha menor, sobreviveu por milagre, trouxe com ela algumas recordações como álbuns de fotos.
                Mas minha vida estava perdida, minha mulher e meu filho mais velho se foram, assim como meus pais e a maior parte dos vizinhos, só não me atirei daquele morro pelo pequeno milagre que agora vai ter que crescer sem mãe e avós, nem irmão.
                Até agora me pergunto de quem é a culpa, nossa por invadir um lugar de risco? Mas meus pais nem sabiam o que é isso, e depois nem tinham mais aonde ir, não podiam me criar na chuva. Mas a imagem do prefeito que prometeu a morada não me sai da cabeça, e agora digo para todas autoridades, Deus abençoe-os , porque um pouco do sangue de cada morto está nas mãos de vocês.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Chuva de Verão




                Era um dia como hoje, o verão não dava uma trégua com as chuvas repentinas. Em meio aquele caos estava um homem desafiando o céu, homem não, garoto, adolescente que julgava saber como tudo funcionava. Ele aproveitava os intervalos das chuvas para continuar sua jornada. Mas por que tanta empolgação para sair no meio das pancadas de chuva do verão?
                Sim, havia um motivo maior pra aquilo tudo, seria o fim, o fim da melhor parte de sua vida, algo que foi bom mais precisava acabar, algo que lhe ensinou muito, mas deveria chegar ao fim.
                Ela olhava a chuva caindo parecia pressentir que algo estava para mudar. Já havia algum tempo que tudo era diferente, o garoto revoltado pra quem decidirá entregar seu coração já não podia ajudá-la devido à distância, em seu coração a solidão batia cada vez mais forte.
                Na mente do garoto a idéia fixa de que o desfecho não passaria de hoje, que hoje ele resolveria tudo de uma vez por todas.
                Ele demorou um pouco chegar ao local marcado, para não chegar molhado teve que ir arranjando abrigos, ela entendeu sua explicação.
                - Como estão as coisas? – perguntou ele
                -Estão piorando, ontem briguei com minha mãe, meus dois irmão não falam mais comigo, estou sozinha de fato – respondeu ela, mas não querendo parecer muito coitada
                -Eu sei o quanto você está sofrendo, mas há quilômetros de distância que nos separam, isso não pode dar certo, enquanto você vivia aqui eu podia te ajudar, agora só posso te comunicar por cartas
                -É, mas temos que ter paciência...
                -Não, já bastou o dia que você encostou a lâmina nos pulsos, não quero passar por isso de novo. Lembra daquele seu amigo que gosta tanto de você?
                -Não se preocupe não vai acontecer. O que tem ele?
                -Eu sou a única barreira que impede vocês dois, mas agora essa barreira se foi, ele pode cuidar de você, eu não
                -O que está dizendo?
                -Simples, você não consegue superar o que eu consegui sozinha, e eu longe não é a mesma coisa do que ele perto. Sei que você tem plenas condições de amá-lo, por isso estou te deixando, pelo seu próprio bem...
                A garota botou as mãos no rosto e deixou as lágrimas escorrerem
                - Pois bem, se é assim, você também está me deixando! Como todos fazem! Apenas me usou, não me preocure mais
                -Se for para seu bem não procurarei mesmo, vou viver uma outra vida, recomeçar, ainda tenho muito que provar aqui neste maldito lugar, não tenho força pra continuar com minhas metas e ficar preocupado com a chance de você tirar sua vida. Pelo menos ele não vai deixar você fazer isso.
                -Não me venha com desculpas, é isso então? Adeus

                Eles discutiram mais um pouco, mas logo o Sol ia se por, e um nunca mais veria a luz do outro. Na volta pra casa ele resolveu se perder um pouco, as pancadas de chuva voltaram, ele se deixou atingir, sabia que tinha feito a escola certa, ele não poderia protegê-la como o outro protegeria. E agora a chuva em sua cabeça indicava um novo começo, para um novo homem, uma etapa se ia, para outras começarem.
                Assim é a vida, uma etapa precisa ser destruída para que outra reine em seu lugar. Assim é a vida, que começa da dor, e da dor se faz o milagre.