quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Conto - Meninos escolhidos


                 No alto de onde as almas vem, estavam os anjos protetores a debater.
                 "Nao este não pode ser o escolhido, prefiro aquele" - dizia um deles, o mais alto e esguio
                 "Não não, este é o melhor" - dizia o outro anjo, aquele de cabelos mais escuros
                 "Chega!, quanto barulho! já está decidido" - disse o que parecia ser o líder deles
                   Fez-se o silêncio, a criança escolhida foi pegada no colo, em seguida foi entregada para um dos anjos que estava em pé ali.
                   "Olá, meu nome é Ibisael, serei seu protetor"  - a criança deu um sorriso com a voz do anjo.
                   "Você vai descer para a Terra, não é um lugar fácil, mas tem que ir para lá. Você foi a criança escolhida, nesse mundo poucos são os que amam, o amor está cada vez mais escasso as pessoas o tem em pequenas doses, o que não é sulficiente para deixar o mundo como deveria ser.
                      Você meu pequeno, vai com o coração capaz de gerar um imenso amor, isso vai te fazer sofrer, pois as pessoas não estarão preparadas para isso, com sorte encontrará outras pessoas que partilham da mesma capacidade. Não chamaremos isso de dom, nem de maldição, isso vai caber a você e seus companheiros definir.
                      Criança, tenha sempre em mente que você é diferente, será lançado aos lobos, e caberá apenas a você sobreviver, temos que cubrir várias partes da Terra, por isso os outros escolhidos serão separados de você. Porém tenha em mente, que quem leva o amor em seu coração nunca está sozinho, e eu estarei ao seu lado como seu anjo.
                       Agora chegou a hora, vá, vai ter muitos desafios pela frente, mas saberá se expressar como ninguém"
                        O garoto foi enviado para a Terra. Ele cresceu, e se impressionou com o quanto as pessoas poderiam ser mesquinhas e egoístas, embora não lembrasse nada que o anjo um dia tinha falado para ele, sabia que o mundo estava sem amor, e sabia que ele carregava uma boa parte dele dentro de seu peito. Como nada poderia fazer ele escreveu para salientar sua angústia, aquilo que ele carregava era um fardo grande demais, ele não sabia como fazer para espalhar aquilo um pouco para o mundo.
                          Passou dias sem dormir, sem comer direito, chegou a exaustão, mas escreveu livros e livros, espalhando suas idéias. O garoto não aguentava mais decepções atrás de decepções, o amor tão abundante em seu peito esmagava seu coração, ele não tinha com quem dividi-lo.Um dia ele não mais aguentou, foi encontrado já sem vida na mesinha em que escrevia todos os dias. Algum tempo após sua morte suas obras foram encontradas, se espalharam pelo mundo, sua filosofia ficou conhecida, as pessoas começaram a refletir sobre ela.
                          O pobre garoto não mudou o mundo, porém muitas pessoas foram tocadas fundo por aquilo que ele escrevia, logo ele morreu, mas a semente que ele veio plantar continuou viva, para todo sempre.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Crônica - Sentimento estranho

                    Levantei de minha cama, precisava continuar a escrever minha nova obra, coloquei meu cd dos Stones e começei a delirar no quarto, mas faltava algo, alguma coisa que não me deixava quieto. Era estranho como sua voz aparecia em todo quanto, e eu vivia a tatear pelo escuro procurando de onde ela surgia.Deveria estar delirando, aquele não era eu, esse não sou eu, mas ela não saia de minha cabeça, concerteza eu estava dominado.
                    Tirei o cd dos Stones, coloquei algo para combinar mais comigo, Bryan Adams (o quê?), quem estava ouvindo isso sozinho com uma taça de vinho na mão em seu apartamento em um dia de semana? Já não me reconheço mais, o que se passa comigo? Por favor saia de minha cabeça!
                     São nove horas da manhã, estou escrevendo feito louco, parece que apenas assim me alivio, parece que assim meu coração não se aperta, parece que assim consigo pensar em outras coisas. Às dez meu telefone toca.
                     "Ei Carlos, notícia quente aqui, vem até o Parque do Centro, acidente envolvendo gente famosa!". A profissão me chamava, preferia muito mais cobrir eventos políticos do que essas notícias de fofoca, mas tenho que ter paciência.
                       Peguei meu carro e parti, sua imagem voltou a minha cabeça novamente, agora eu acelerava sem parar na estrada (quem iria sair pela cidade em um feriado chuvoso?), eu sabia exatamente o que era, mas não queria admitir para mim mesmo. "Não você é mais forte do que essas coisas, sempre foi!", parei com meus pensamentos quando fui parada na estrada pelo guarda, mostrei meu sorriso e ele me mostrou sua multa.
                         Cheguei ao local do acidente, não estava a fim de falar com ninguém, mas ninguém respeita isso, tive que bancar o bonzinho em frente aos outros de novo, fiz a reportagem, montei meu texto, e passei para meu redator. "Otimo, tem mais coisas para cobrir, tá interessado?, dessa vez é a chance que você sempre esperou, debate entre os candidatos à prefeitura". A chance de minha vida, finalmente iria subir para a política, mas algo mais forte do que eu tomou conta de novo, "Hoje não dá chefe, tô indo para a casa". Ele se espantou, deu um meio sorriso e disse que eu estava liberado.
                           Peguei meu carro, dessa vez com mais calma, já eram seis e pouco da tarde, demorei cerca de uma hora para chegar à minha casa, mas sua imagem ainda não me abandonou, eu iria ficar louco, como última alternativa fiz o que nunca pensei que faria, peguei o telefone e:

                          
                             "Tá, você venceu, estou com saudade, pode voltar agora!"