sábado, 18 de dezembro de 2010

Charlie, a tradição contra a vida

                            
                Charlie morava em Engelberg, uma cidade com certa de 3.500 habitantantes , localizada na Suiça. Nasceu nos Estados Unidos, mas ainda novo seus pais se mudaram para o país europeu por questões de trabalho.
                Mesmo sendo um estrangeiro, Charlie, era muito conhecido na pequena cidade, seu pai era um importante político, e não havia festinha que Charlie não fosse convidado.
                Porém, após um certo tempo de grandes festas, ele começou a enjoar daquilo tudo. Passou a ficar mais tempo em seu quarto, sem dar satisfações a seus amigos do que estava acontecendo.Mesmo ele reconhecia que estava mudando.
                Acontece que Charlie agora passava por uma fase idealista da vida, atingia os quinze anos, e em uma festa ele viu um rapaz pichando contra o nome de seu pai, o garoto popular não ficou revoltado como antes ficaria, apenas admirou a atitude do garoto, que tão novo se expõe ao risco pelos seus ideais. Então ele percebeu o como ele era normal, e insignificante em idéias, sua vida era apenas uma festa, e ele não queria isso.
                Agora ele passava um bom tempo em seu quarto ouvindo heavy metal, assistindo filmes do Tim Burton, lendo Edgard Allan Poe e livros de ocultismo. Começou a desafiar seu pai, este queria que ele seguisse a carreira política, coisa que ele não queria.
                “Sinto muito pai, mas isso não é para mim, não me encaixo com seus colegas corruptos, prefiro a morte a me tornar isto! Vou ser um escritor, vou escrever sobre como vejo o mundo!”
                “Ora Moleque, você não tem idade nem para morar sozinho, quer me afrontar ainda!”
                As conversas sempre terminavam em discussão, agora na cabeça de Charlie, passava a idéia de uma fuga cada vez mais.
                Ele começou a chamar a atenção na escola, quando passou a ir de preto com sobretudo e camiseta do Lacrimosa, nas bocas e cabeças de todos só passava uma coisa:
                “Este não é nosso Charlie”
                Mas a partir daí ele passou a ser mais popular do que já era, coisa que o deixava frustrado, a única coisa que ele queria era poder ficar em paz para escrever seus textos. Passou a cortar todos os amigos que em sua concepção eram inúteis, andava agora com alunos cdfs e menos populares, a companhia destes eram de maior grado do que a dos antigos amigos.
                Suas notas subiram muito, principalmente em Literatura, sabia de tudo sobre os temas abordados, agora ele ficava surpreso com seu intelecto encoberto pela vida que antes levava.
                Não agüentava mais a pressão de seu pai, resolveu fugir de casa, e foi o que fez. Em uma noite em que a Lua se erguia cheia no céu, ele fugiu de casa, levando umas poucas coisas. Sua primeira parada foi em uma praça, iria dormir ali até pensar em algo melhor, mas ele viu uma visão que o mudou para sempre, ali estava uma garota, pálida como a neve, com lábios vermelhos e cabelo escuro, vestida de negro, com um grande vestido que para ele muito lembrava as musas que ele imaginava como a perfeição.
                Não resistiu e foi conversar com ela:
                “Oi? O que faz em um parque a essas horas?”
                “Esperando você Charlie”
                “Como sabe meu nome?”
                “Sei de muita coisa, converso com espíritos, e eles me disseram sobre sua transformação e também que eu deveria vir te ajudar”
                Charlie, ficou surpreso, mas também estava maravilhado, em sua atual fase, poucas garotas o chamavam a atenção, mas ela chamava, e ele leu Kardec o bastante para acreditar no que ela falava, até se lembrava de um dia pedir ajudar para algum espírito que tivesse o observando.
                “Espere como é seu nome garota?”
                “Perdão, esqueci deste detalhe, meu nome é Anne”
                Anne pegou a mão de Charlie e o levou para uma casa abandonada, lá se encontravam pessoas de todas as idades, declamando poesias em todo quanto, fazendo cenas de peças famosas, cantando, escrevendo e até pintando.
                O garoto ficou maravilhado com aquilo tudo, era o lugar para ele, em sua mente tudo se desenhava como uma Utopia. Mas ele finalmente estava em casa.
                No dia seguinte, Charlie, ficou sabendo que seu pai colocara grandes autoridades para procurá-lo, contou sua preocupação para Anne:
                “Anne, sei que mal cheguei mas preciso partir, meu pai está a minha procura, não quero voltar a minha vida cotidiana”
                “Nâo se preocupe Charlie, irei fugir com você, não devo te abandonar, para o bem ou para o mal, sou sua guia”
                Charlie ficava bestificado, uma garota de sua mesma idade sendo uma guia, mas não lhe agradava a idéia de se separar dela, seu coração já havia sido tomado desde a primeira vez que nela pôs os olhos.
                Os dois conseguiram sair da cidade, no caminho Anne ia ensinando muitas coisas sobre o poder da natureza, e a magia de sentir a Criação Divina em cada canto. Charlie por sua vez aprendia tudo rapidamente, como bom aluno. Certa vez ele roubou um beijo de Anne:
                “Desculpe, não deveria ter feito isto” – Charlie não sabia onde enfiar a cara, Anne por sua vez riu
                “Controlar os impulsos é muito importante, mas se inibir de seus desejos por medo ou vergonha não é uma coisa boa, e como um comentário pessoal, pensei que nunca ia fazer isso!” – Charlie se impressionava cada vez mais com a graciosidade e inteligência de Anne, agora Ann sua namorada.
                Charlie não tinha conforto, nem dinheiro, mas nunca estivera tão feliz em sua vida, tinha uma garota que amava, e estava aprendendo tudo sobre a natureza, e a vida, nunca conseguiu escrever tão bem desde que se tinha memória.
                Há dez meses, estavam andando os dois sozinhos por ai, vendo os lagos, as noites de Lua, sem saber o que iam comer ou encontrar em seguida, mas um protegia o outro, e finalmente Charlie encontrava alguém que sabia dividir o mundo com ele, da maneira como ele pensava ser.
                Agora chegava o momento de voltar e encarar a antiga cidade, onde seu pai deveria estar furioso. Era a última noite dos dois juntos, ela lhe entregou um livro:
                “Pegue, isto é para você, és o melhor aluno de que ouvi falar, com este livro aprenderá o resto sozinho”
                “Como assim? O que quer dizer? Não mais me seguirá?”
                “Sempre estarei com você, mas esteja preparado para o que vai se seguir na cidade, seja forte”
                “Como assim?”
                Anne ficou quieta, e Charlie não conseguiu dormir.  Ao amanhecer, Anne disse as seguintes palavras antes de entrar no perímetro da cidade:
                “Charlie, quero que saiba que independente do que acontecer, você foi a melhor coisa que aconteceu comigo, e sempre serei grata pelo dia em que te encontrei na praça, independente do que isto possa me fazer.Sempre estarei com você”
                “Eu também sinto o mesmo, mas por que tudo isso? O que tá acontecendo?”
                “Nada, apenas diga que vai sempre seguir seu caminho, prometa! Por mim!”
                “Sim prometo”
                Os dois foram até a cidade, lá chegando, foram primeiro a casa abandonada, onde estava tudo revirado e destruído. Logo andaram mais um pouco, quando ouviram o grito
                “Olha a Bruxa!!”
                Estavam apontando para Anne, Charlie pegou em sua mão e quis correr, mas ela não se mexeu, quando as pessoas chegaram mais perto, ele se interpôs entre eles e ela, mas logo levou um golpe na cabeça que o desacordou.
                Quando acordou, o médico lhe explicou , que o boato que corria em toda cidade, era de que Anne era uma bruxa que falava com os mortos, e seqüestrou o filho de um importante político, o colocando um feitiço que o fez agir estranho por todo este tempo.
                Charlie tentou explicar a verdade, mas ninguém acreditava (queria acreditar) nele, ninguém ousaria desafiar as ordens de um político, que contara a história e não queria ouvir nada que provasse o contrário.
                Charlie entrou na cela onde Anne estava presa, e falou com ela :
                “Ainda dá para nós tentarmos uma fuga”
                “Sinto Charlie, é o fim da linha pra mim, você prometeu que iria continuar, todos nossos irmãos do casarão abandonado, foram capturados, cabe a você, meu melhor aluno e único amor passar a tradição à frente”
                “Não! Não sem você!”
                “Sim Charlie, é assim que tem que ser”
                Ela deu um ultimo beijo em Charlie, e pediu para o guarda tira-lo de lá.
                Na manhã seguinte, Charlie assistiu Anne ser queimada viva, e ali o amor dos dois morria. Ele demorou alguns meses para se recuperar, mas voltou a desafiar seu pai, que por fim o deixou ir, e agora ele continua passando a tradição, de como viver a vida livre das imposições coletivas, sabendo sempre que em algum lugar, Anne o protege.

                                                     F I M
               
               
                                

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