domingo, 19 de setembro de 2010

Crônica - Fuga

                     Os primeiros raios de Sol ainda nem haviam surgido, mas eu já estava em pé, não iria ser tão fácil quanto eu imaginei que seria. Olhei com carinho para o pequeno espaço de dois cômodos que por tanto tempo havia me servido, a simplicidade, a poeira, a escrivaninha com meu notbook, o colchão jogado ao chão, tudo coisas que eu iria aprender aos poucos como deixar.
                      Mas não reclamo de nada, tudo isso foi escolha minha, não construir uma família, escolher trocar um futuro que todos consideram digno por meu violão e notbook para escrever um pouco. Meu alojamento recebia a visita de meus poucos amigos e meus familiares, eles não me deixariam fazer isto, então não avisei ninguém, eles aprenderiam a viver sem mim, às vezes acho que não passo de um fardo a ser carregado por eles.
                       Peguei meu notbook e coloquei na mochila, coloquei meu violão na capa, já estava tudo pronto, mas o retrado de todos juntos cai em meu colo, não precisava disso, vou precisar de mais um tempo para reunir forças, quando senti uma gota isolada cair no retrato, me veio a imagem de como tudo poderia ter sido se eu escolhesse a normalidade, se escolhesse viver como todos consideram bom viver, quem sabe já seria um doutor a essa altura, ou então um homem importante, teria filhos que me tomariam de exemplos, os netos que meu pai tanto queria, teria minha casa confortável e luxuosa. Joguei o retrato contra a parede, agora não é hora para isso, tarde demais para pensar no que poderia ter sido, agora é, viver o presente.
                       Não sei para onde vou, o vento me dirá exatamente o que fazer, espero escrever muito, compor um pouco, vou mandar tudo para algum amigo meu, pedir para ele publicar quem sabe, mas depois posso sumir de vez, nesse mundo não há mais lugar para um cara feito eu, estou aqui de intruso, por isso vou embora.
                      Levantei do colchão sabendo que não mais o veria, olhei uma ultima vez para aquele quarto, agora o Sol começava a nascer, tudo que é meu deixo para quem quiser, levo apenas minha alma, já é bastante gasta para entregar à alguem, peguei o album de fotos e coloquei na mochila, definitivamente não seria fácil, mas assim que tem que ser.  
                       

2 comentários:

  1. Hum , muito bom.
    Prendeu minha atenção do começo ao fim.
    Está mesmo muito legal.
    Parabéns.

    http://erasmorebirth.blogspot.com/

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  2. valeu, é bom saber que tem gente que dá atenção ao que eu escrevo rs

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