sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Crônica - Fênix

                Hora do almoço no jornal, em um dia de muita neblina no meio do inverno, as pessoas que estavam na praça logo poderiam ver três sombras se aproximando do banco em frente a catedral.
                 Esses eram meu amigo Valdir (a maior de todas as sombras) com seu jeito troncudo e grosseiro, minha amiga Alma e seu jeito espotâneo e delicado, e por fim, eu mesmo.
                  Nos sentamos em frente a matriz, a praça estava quase vazia, ninguém se arriscava a sair em um frio daquele, apenas três loucos buscando a digestão antes de voltar ao trabalho. Jogamos um pouco de conversa fora, até que veio um assunto que eu não gostava muito. Relacionamento.
                  - E você Arthur, ainda sozinho? - Me perguntou Valdir como quem não quer nada, mas eu sabia exatamente aonde ele queria chegar.
                  -Não tenho tempo para essas coisas - respondi tentando ser o mais seco possível.
                  -Ainda pensando nela? - Alma dava sua vez, por que ela nunca exitava antes de fazer essas perguntas?
                   -Claro que não! faz muito tempo.
                  -Até agora não entendi essa história, por que a deixou ir?
                  -Tenho meus motivos e já expliquei tudo.
                  -Você está errado, as coisas não funcionam assim - Valdir se intrometeu na discussão
                  -Como funcionam então? - perguntei com ar de desafio
                  -Você deveria ter pegado um onibus e ido até lá falar umas coisas para ela
                  -Como se fosse fácil sair e viajar tantos quilometros assim quando se é adolescente - falei agressivamente, mas logo mudei o tom para mais calmo - já disse que faz muito tempo, chega com isso.
                  -Sim, faz muito tempo mesmo - Alma novamente falava, agora com ar de preocupação - mas amanhã vai ser outro dia dos namorados que você passa sem ninguém, você sempre acaba com seus casos mais rápido do que começa.
                  -Quer que eu faça o quê?
                  -Sei lá, pense em construir uma fámilia pelo menos
                  -Não existe amor Arthur, para com isso, a vida não é assim a pelo menos um século - Valdir sempre criticava meu jeito antiquado.
                  -O que quer dizer com isso? - perguntei com ar de desafio a ele novamente
                  -Que você tem que fazer como todo mundo, casar, ter filhos e se divorciar, essa é a vida, não é como nos livros de Shakspeare, você tem que acelerar no tempo!
                    "Alma você por aqui!", veio a vozinha no estilo daquelas mulheres que quando começam a falar não param mais, era uma amiga de alma, consultora de moda, estava a poucos metros, iria manter a atenção de Alma ocupada por um tempinho.
                        Quando ela saiu, comentei com Valdir.
                     -Você olha diferente para ela
                     -Q-quem? - ele ficou sem reação
                     -Cara, você tá caidinho pela Alma - não conseguia segurar uma forte risada
                     -N-não, v-você ta louco - ele ficava péssimo sem jeito
                     -Não se preocupe, não vou falar nada para ela, mas é engraçado
                     -Não vejo graça alguma, e não admiti nada, você tá inventando coisas - ele ficou mais calmo - não tente fugir, ela te perturba um pouco ainda - parecia impossível fazer eles pararem em falar "nela"
                      -Não, ela não me perturba ainda, já faz muito tempo
                      -Então quero te ver saindo com alguém, hoje à noite
                     Neste momento Alma volta para o banco. Quando ela se sentou eu deitei minha cabeça em suas pernas, sou muito mau às vezes. Vi Valdir serrar os dentes.
                       -Você é muito folgado sabia? - Alma me falou rindo
                       -Sabia sim, o que vai fazer hoje à noite? - perguntei olhando de canto para Valdir e com ar de riso. Ele simplesmente fechou os punhos.
                      -Acho que vou no aniversário de minha vó - parei de  brincadeira e sai do colo dela
                      -Programa muito interessante - falei revirando os olhos
                      -Não fuja do assunto - Valdir não me dava folga
                      -O que eu poderia fazer, ela morava muito longe de mim, em outra cidade, outro estado
                      -Já ouviu falar em cartas, sei lá? - Alma adorava fazer ar de superior 
                      -Voce sabe sobre a doença dela, ela precisava de todo apoio - derrepente uma sombra pairou sobre meu olhar - quando ela estivesse triste ela ia beijar minha carta? ela poderia deitar em minha carta? minha carta falaria palavras de força para ela?, não, mas o outro rapaz sim.
                       -Você deveria ter quebrado a cara dele - Valdir teria adorado essa parte - e não tê-la dado de bandeja para ele.
                       - Nenhum dos dois pode entender, ele fazia bem à ela, a apoiava, eu também, mas de longe, ele poderia ser muito melhor do que eu nisso, porque estava perto dela e era amigo, ele a amava também.
                       -Acho os dois idiotas, ela por te deixar ir, você por não lutar por ela e...
                       -Por não dar um soco no seu rival - Valdir interrompeu Alma.
                       Derrepente o sino da Igreja tocou, já era uma hora, hora de voltar ao trabalho. Mas não gosto de sair perdendo, então soltei a última frase enquanto voltavamos para a redação.
                      "Não se preocupem comigo, sou como a Fênix, renasco das próprias cinzas, caio mas me levanto sempre, e recomeçar é o que melhor sei fazer."
                           

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